quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Wilhelm Wundt



"A mente pode observar todos os fenómenos excepto os seus próprios… O órgão observador e o órgão observado são idênticos, e a sua acção não pode ser pura e natural. Para observar, o nosso intelecto deve fazer uma pausa em sua actividade; contudo, o que se quer observar é precisamente essa actividade. Se não se puder fazer essa pausa, não se pode observar; se se conseguir fazê-la, nada há a observar. Os resultados desses métodos são proporcionais ao seu carácter absurdo" (Comte).





Wihelm Wundt passou seus primeiros anos em aldeias próximas a Mannheim, Alemanha, e teve uma infância marcada por uma intensa solidão. Obtinha notas ruins na escola e levou a vida de um filho único; seu irmão mais velho estava no internato. Seu único amigo da mesma idade era um garoto mentalmente retardado que tinha boa natureza mas mal podia falar. O pai de Wundt era pastor e, embora ambos os pais pareçam ter sido sociáveis, as primeiras lembranças de Wundt a respeito do pai são desagradáveis. Ele se lembrava do pai tê-lo visitado um dia na escola e ter-lhe batido no rosto por não prestar atenção no professor. Num certo momento, a educação de Wundt esteve a cargo do assistente de seu pai, um jovem vigário por quem o menino desenvolvera uma forte afeição. Quando esse mentor foi transferido pra uma cidade próxima, Wundt ficou tão deprimido que conseguiu permissão para ir viver com ele até os treze anos.
Wundt passava a maior parte do tempo em devaneios, em vez de estudar, e foi reprovado no primeiro ano Gymnasium. Não se dava bem com os colegas e era ridicularizado pelos professores. Aos poucos, no entanto, Wundt aprendeu a controlar os sonhos diurnos e até chegou a alcançar relativa popularidade. Jamais gostou da escola, mas mesmo assim desenvolveu seus interesses e capacidades intelectuais. Quando terminou a Liceu, aos dezenove anos, estava pronto para a universidade.
Para ganhar a vida e estudar ciências ao mesmo tempo, Wundt resolveu ser médico. Seus estudos de medicina o levaram para a Universidade de Tübingen e a Universidade de Heidelberg, onde estudou fisiologia, anatomia, física, medicina e química. Gradualmente Wundt percebeu que a prática da medicina não era do seu agrado e passou a se concentrar na fisiologia.
Depois de um semestre de estudo na Universidade de Berlim, com o grande fisiologista Johannes Müller, Wundt retornou a Heidelberg para receber o seu doutorado em 1855. Conseguiu o cargo de docente de fisiologia em Heidelberg, que ocupou de 1857 a 1864, e, em 1858, foi nomeado assistente de laboratório de Hermann von Helmholtz. Ele achou tedioso a idéia de instruir novos alunos quanto aos fundamentos do trabalho em laboratório, e se demitiu
do cargo anos depois. Em 1864, foi promovido a professor associado e permaneceu na Universidade de Heidelberg por mais dez anos.
No curso de suas pesquisas fisiológicas em Heidelberg, Wundt começou a conceber uma psicologia que fosse uma ciência experimental e independente. Ele apresentou sua proposta inicial de uma nova ciência da psicologia num livro intitulado Beiträge zur Teorie der Sinneswahrnehmung (Contribuições pra a Teoria da Percepção Sensorial), que foi publicado em partes entre 1858 e 1862. Além de descrever sues próprios experimentos originais que, realizara num tosco laboratório construído em sua casa, ele exprimiu seus pontos de vista a cerca dos métodos da nova psicologia. Em seu livro, Wundt também usou pela primeira vez o termo psicologia experimental. Ao lado de Elementos de Psicofísica (1860), de Fechner, o Beiträge é frequentemente considerado um marco da literatura da nova ciência.
Ao Beiträge seguiu-se em 1863 Vorlesungen über die Menschen und Thierseele (Conferências sobre as Mentes dos Homens e dos Animais). Uma indicação da importância dessa publicação foi sua revisão quase trinta anos depois, com uma tradução para o inglês e repetidas reimpressões mesmo depois da morte de Wundt, em 1920. Nela, Wundt discutiu muitos problemas, como o tempo de reação e a psicofísica, que iriam ocupar a atenção dos psicólogos experimentais durante anos.
Ainda na Universidade de Heidelberg, em 1867, Wundt produziu material para um outro livro, Principles of physiological psychology (Princípios da psicologia fisiológica), publicado em duas partes entre 1873 e 1874. Em 37 anos, Wundt revisou o livro em seis edições, sendo a ultima publicada em 1911. Principles é, indubitavelmente, sua obra prima, na qual Wundt estabeleceu a psicologia como uma ciência laboratorial independente, com problemas e métodos de experimentação próprios.Por vários anos, sucessivas edições de Principles of physiological psychology serviram como base de informações para os psicólogos experimentais e de registro do progresso da psicologia. O termo “psicologia fisiológica” pode dar margem a interpretações equivocadas, já que naquela época o vocabulário “fisiológica” era sinônimo da palavra alemã que queria dizer “experimental”. Na realidade, Wundt estava lecionando e escrevendo a respeito da psicologia experimental e não sobre a psicologia fisiológica no sentido atual da palavra.
Wundt começou a mais longa e importante fase de sua carreira em 1875, ao tornar-se professor de filosofia da Universtiy of Leipzig, onde trabalhou durante 45 anos. Logo depois de chegar a Leipzig, instalou um laboratório e, em 1881, lançou a revista Philosophical Studies, publicação oficial do novo laboratório e da nova ciência. Havia pensado em chamar a revista Psychological Studies (Estudos Psicológicos), mas mudou de idéia porque aparentemente já existia outra com o mesmo nome (embora abordasse temas relacionados com ocultismo e espiritismo). Em 1906, renomeou a revista de Psychological Studies. Agora tendo nas mãos um manual, um laboratório e uma revista acadêmica especializada, a psicologia estava em bom caminho.
O laboratório de Wundt e também a sua crescente fama atraíram pra Leipzig muitos estudantes que desejavam trabalhar com ele, dos quais vários se tornaram pioneiros, difundindo versões próprias de psicologia para novas gerações de alunos. Entre eles estavam diversos americanos que retornaram aos Estados Unidos para implementar laboratórios próprios. Assim, o laboratório de Leipzig exerceu enorme influência no desenvolvimento da psicologia moderna, servindo como modelo para novos laboratórios e constantes pesquisas.
Além dos laboratórios instalados nos Estados Unidos, outros foram implementados por alunos de Wundt na Itália, na Rússia e no Japão. Nenhum outro idioma teve mais livros traduzidos de Wundt do que o russo e a admiração por ele chegou ao ponto de os psicólogos de Moscou construírem uma réplica do seu laboratório. Outra réplica foi construída por estudantes japoneses na Tokyo University, em 1920, ano da morte de Wundt (mas foi destruída durante um conflito estudantil nos anos 1960).
Sua vida pessoal foi tranqüila e modesta e seus dias eram cuidadosamente planejados, Pela manhãs trabalhava em um livro ou em algum artigo, lia os trabalhos dos alunos e editava a revista. Às tardes realizava exames ou encaminhava-se para o laboratório, cuja visita, conforme lembrou
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um estudante americano, não durava mais de cinco a dez minutos. Aparentemente, apesar de acreditar na pesquisa de laboratório, “o próprio Wundt não era um pesquisador de laboratório”. (Cattel, 1928, p 545).
Mais ao final do dia, Wundt fazia uma caminhada e mentalmente preparava a aula da tarde que ministrava habitualmente as quatro horas. À noite dedicava-se à música, à política e, quando mais jovem, às atividades relacionadas com o direito do trabalhador e do estudante. Levava uma vida confortável e a família dispunha de empregados domésticos e usufruía de lazer. Com a implementação do laboratório e a criação da revista especializada, além da grande quantidade de pesquisas em andamento, Wundt voltou a atenção para a filosofia. De 1880 a 1891, escreveu a respeito da ética, da lógica e da filosofia sistemática, publicou a segunda edição de Principles of physiological psychology em 1880 e a terceira em 1887; ainda contribuía com artigos para revista.
Outra área que Wundt concentrou seu grande talento, fora esquematizada em seu primeiro livro: a criação da psicologia social. Ao retomar esse projeto, Wundt produziu um trabalho em dez volumes, intitulado Cultural psychology (Psicologia cultural), que publicou entre 1900 e 1920.
A psicologia cultural tratou de várias etapas do desenvolvimento mental humano manifestado pela linguagem, nas artes, nos mitos, nos costumes sociais, na lei e na moral. O impacto dessa publicação na psicologia foi mais significativo do que o conteúdo em si, já que serviu para dividir a nova ciência em duas partes principais: a experiência mental e a social.
Wundt acreditava que as funções mentais mais simples, como a sensação e a percepção, deviam ser estudadas por meio de métodos de laboratório. Todavia, os processos mentais superiores, como a aprendizagem e a memória, não podiam ser investigados pela experimentação científica, por serem condicionados pela língua e por outros aspectos culturais. Wundt só acreditava no estudo dos processos de pensamento superiores com o emprego de meios não experimentais como os usados na sociologia, na antropologia e na psicologia social. A noção do significativo papel das forças sociais no desenvolvimento dos processos cognitivos ainda é considerada importante; no entanto, a conclusão de Wundt de que tais processos não são passveis de estudo por meio de experimentos foi logo contestada e invalidada.
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Wundt dedicou dez anos ao desenvolvimento da psicologia cultural; entretanto o campo, na forma como havia previsto, exerceu pouco impacto sobre a psicologia americana. Uma razão provável para a falta de interesse dos psicólogos americanos seria a época da publicação: entre 1903 e 1920. Nesse período uma nova psicologia estava surgindo nos Estados Unidos, com uma abordagem um pouco distinta da de Wundt. Um destacado pesquisador observou que a psicologia cultural não atraía tanto interesse porque ela “surgiu em um estágio de maturidade da psicologia americana em que os pesquisadores americanos estavam bem menos suscetíveis às impressões estrangeiras do que nas décadas de 1880 e 1890” (Judd, 1961, p. 219).
Wundt prosseguiu na pesquisa sistemática e no trabalho teórico até a morte, em 1920. Graças ao seu estilo de vida organizado, conseguiu completar as memórias dos seus registros psicológicos pouco antes de morrer. Análises acerca da sua produção constataram que ele escreveu 54.000 páginas entre 1853 e 1920, em uma media de 2,2 páginas por dia (Boring, 1950; Bringmann e Balk, 1992). Havia concretizado o sonho da infância de tornar-se um escritor famoso.
Wundt define como objeto da psicologia o estudo da mente, da experiência consciente do Homem - a consciência - e é no seu laboratório, em Leipzig, que Wundt vai procurar conhecer os elementos constitutivos da consciência, a forma como se relacionam e associam (concepção associacionista). Para atingir estes seus objetivos, Wundt utiliza como método de estudo a introspecção controlada, que consistia em, no laboratório, observadores treinados descreverem as suas experiências resultantes de uma situação experimental. Através da introspecção, os sujeitos descreviam as suas percepções resultantes de estímulos visuais, auditivos e tácteis. Por exemplo, ouviam um som e em seguida descreviam o que sentiam e só este método permitiria, segundo Wundt, o acesso à experiência consciente do indivíduo. O emprego da introspecção veio da física, onde este método tinha sido utilizado para estudar a luz e o som e vem também da fisiologia, em que fora aplicado ao estudo dos órgãos dos sentidos. A introspecção ou percepção interior, tal como é praticada no laboratório criado por Wundt, seguia condições experimentais restritas e obedecia a regras explícitas. Wundt raramente usava o tipo de introspecção qualitativa em que o sujeito apenas descreve as suas experiências interiores, não sendo sujeito a qualquer método objectivo e rigoroso, introspecção está adotada por Titchener e Külpe (alunos de Wundt). Wundt tratava, principalmente, julgamentos conscientes acerca do tamanho, intensidade e duração de vários estímulos físicos. Só um pequeno número de estudos envolvia o relato de natureza qualitativa e subjetiva, tal como o caráter agradável ou não de diferentes estímulos ou a qualidade de determinadas sensações. As áreas investigadas por Wundt abrangeram os domínios da sensação, percepção, atenção, sentimentos, reação e associação. Com todas estas suas contribuições foi considerado por muitos o "pai da psicologia experimental".
Era um
elementista. Analisava os compostos e complexos conscientes a partir dos elementos ou unidades: sensação e sentimentos. Para Wundt, a mente executa uma síntese química mental que se processa através da associação que se realiza de três formas: pela fusão, onde os elementos combinados aparecem sempre juntos, como é o caso da nota musical; pela assimilação, que é, também, uma combinação de elementos em que nem todos estão presentes do consciente. Quando se vê uma casa ,por exemplo, podem não estar presentes, na consciência, as figuras que compõem aquela casa (triângulo, retângulo, quadrado). Como na fusão, essa combinação gera um produto novo que não é o resultado da simples soma dos elementos; A terceira forma é chamada complicação, em que se reúnem elementos de diferentes modalidades e sentidos: a noção do sabor e da temperatura.O materialismo científico também esteve com Wundt, buscando a relação entre os fenômenos psíquicos e fisiológicos, entre a mente versus o corpo. Os processos mentais, os processos corporais e fisiológicos decorrem, paralelamente, sem interferência mútua.Foi um empirista, em oposição ao nativismo. Acreditava que a vida mental era fruto da experiência e não de idéias inatas, e que os fenômenos mentais do presente se baseavam em experiências passadas, antecipando, de certa forma, o construtivismo.O seu laboratório foi palco de muitas experiências. Os estudos das sensações e da percepção, onde foram medidas e classificadas as sensações no seu aspecto visual, tátil, olfativo e sinestésico. Foram pesquisados os sentimentos, a vontade e a emoção, registrando-se as variações físicas como: da alteração da respiração, da pulsação e dentre outros.Os estudos feitos por Wundt foram férteis e abundantes. À medida que a ciência desenvolvia-se, o laboratório tornava-se mais produtivo.
E com isso surgiram várias ramificações, dando assim novas tendências que se estruturavam ao longo do século XX , que foram: O
Estruturalismo, o Funcionalismo, o Behaviorismo, a Gestalt, e a Psicanálise. Cada uma dessas escolas, caracterizaram-se pela sua definição de psicologia, pelos seus conteúdos e pelos seus métodos que empregavam no decorrer de suas atividades.
Wundt influenciou principalmente o Estruturalismo que define a Psicologia como ciência da consciência ou da mente, termo herdado pelo próprio Wundt .
Edward Titchener estudou na Alemanha em Leipzig e teve como mestre Wundt, ele foi um psicólogo estruturalista britânico e após seus estudos na Alemanha, retornou ao Reino Unido para mostrar essa nova Psicologia, sem sucesso, foi para os Estados Unidos e achou campo. Titchener afirmava que cada totalidade psicológica compõe-se de elementos e que o objetivo da nova psicologia seria a tarefa de descobrir quais são os elementos mentais, o conteúdo e a maneira pela qual se estrutura.Em resumo, Wundt foi considerado o pai da nova psicologia.





Conclusão

A psicologia só se tornou uma ciência independente da filosofia graças a Wundt, nos finais do século XIX.Ele é considerado como fundador da Psicologia moderna. Hoje em dia, a importância dos seus estudos para a Psicologia tem fundamento numa série de circunstâncias. Uma vez que ele não se limitou a pensar a Psicologia como uma ciência independente, sendo assim, seus estudos não abrangiam apenas as paredes do laboratório. Wundt iniciou o estudo de investigação da psicologia experimental fisiológica ao mesmo tempo em que estudava a psicologia dos povos.Nesse sistema amplo de pesquisa, possuía invulgar a capacidade e fecundidade de um trabalho.
A concepção de sua Psicologia era orientada pela Física, por conta disso procurava encontrar elementos e processos elementares que pudessem construir a alma como um todo, ao mesmo tempo, essa física não o satisfazia. Ele tinha consciência de que ela por si só seria incapaz de explicar processos mais profundos da alma, daí os estudos da psicologia dos povos. Alguns críticos dizem que Wundt até enxergava a importância dessa psicologia dos povos, mas só a citava por acaso, para que não fosse vago ou incompleto. Estudiosos julgam que Wundt nunca definiu alma a partir do conceito dessa psicologia e seu forte sempre foi a física experimental. E enquanto Wundt estudava a psicologia dos povos, outros estudiosos pesquisavam os processos profundos da alma por meio de observações, principalmente com animais e crianças , daí se dá a limitação da psicologia fundada por Wundt que reside no fato de a introspecção não ser um verdadeiro método científico incontestável e de esta corrente excluir a psicologia animal e infantil. Esta corrente foi extinta em meados do século XX.